Folha de S. Paulo | Multipropriedades se espalham pelo Brasil e atraem marcas internacionais
Com cotas médias a partir de R$ 60 mil, moradia compartilhada aposta em pontos turísticos
O crescimento do mercado de multipropriedade no Brasil está atraindo o interesse de grandes marcas hoteleiras internacionais. Pelo modelo de negócio, cada proprietário tem uma fração do imóvel e pode usá-lo por um determinado número de semanas ou meses, dependendo do contrato.
São casas, apartamentos e quartos pensados para férias e segunda moradia, mas que também têm ganhado a atenção de investidores imobiliários.
O país tem hoje 180 empreendimentos desse tipo, entre prontos, em construção ou em fase de lançamento. O dado é do recente "Cenário do Desenvolvimento de Multipropriedades", feito pela consultoria imobiliária Caio Calfat.
O estudo projeta um VGV (Valor Geral de Vendas) de quase R$ 60 bilhões pelo modelo em 2023. Regiões com grande potencial turístico são as com o maior número de empreendimentos multipropriedades, como Nordeste e Sul.
Em Gramado (RS), o maior empreendimento no Brasil da norte-americana Hard Rock terá 858 unidades entre apartamentos, suítes e casas com frações —ou cotas— a partir de R$ 89 mil por uma semana. O valor garante o direito de usufruir de todo o complexo, que conta ainda com shopping, museu da música, centro de eventos, auditórios, salas de reuniões, cinco restaurantes e spa.
A gestão do Residence Club Hard Rock Hotel Gramado será feita pela incorporadora goiana Mundo Planalto. Segundo o CEO da empresa, José Roberto Nunes, o investimento está estimado em R$ 1 bilhão.
"A multipropriedade foi desenvolvida nos Estados Unidos em um momento de crise, para dar acesso a famílias de classe média a uma segunda moradia. Nós acreditamos que seja uma tendência de mercado no Brasil, principalmente pós-pandemia, com todo mundo querendo bem-estar", diz.
Cada proprietário de uma cota no residencial poderá trocar o seu período por serviços em 4.300 destinos em outros empreendimentos da Mundo Planalto e da Hard Rock Internacional, ou alugá-lo. Nesse caso, segundo um estudo preliminar da Mundo Planalto, as diárias serão a partir de R$ 2.000.
A primeira fase do empreendimento está prevista para ser entregue no fim de 2027.
Em uma área de 360 mil m² de frente para o Lago de Furnas, um resort com suíte de 250 m² e 20 bangalôs em Formiga (MG) vai usar a marca internacional Ramada, da Wyndham Hotels & Resorts, a empresa de franquias hoteleiras com cerca de 9.100 hotéis em 95 países.
A brasileira Trul Hotéis, gestora do Ramada by Wyndham Furnas Park, aposta que as vendas fracionadas serão um atrativo para a geração Y, como são conhecidos os nascidos entre 1982 e 1994. O motivo são os valores mais acessíveis de uma multipropriedade em comparação ao da compra de uma propriedade inteira.
Para Alejandro Moreno, CEO da Trul, esse tipo de produto dá a mais gente acesso a projetos de alto padrão. "Não é para todo mundo, mas tem um público, que será paparicado e pode alugar caso não vá utilizar a sua semana", diz.
Além das unidades habitacionais, o empreendimento mineiro prevê aeroporto com 800 metros de pista homologada, heliporto, marina, bar de piscina, piano-bar, restaurante, salão de beleza, SPA e centro de convenções. O preço da cota das unidades está sendo definido, mas o pagamento poderá ser parcelado em até 60 meses.
De acordo com o estudo da Caio Calfat, cerca de 62% da oferta de imóveis multipropriedades em 2023 está com preço de venda de até R$ 60 mil. O restante (38%) busca oferecer empreendimentos para clientes com maior poder de compra.
Segundo Maria Carolina Pinheiro, vice-presidente de desenvolvimento de negócios da Wyndham Hotels & Resorts para a América Latina, investir em projetos no Brasil fortalece o programa de fidelidade da empresa, que, atualmente, tem mais de 97 milhões de membros.
A companhia norte-americana também fará a gestão hoteleira de um empreendimento com temática amazônica em Penha, litoral catarinense. De acordo com um levantamento da incorporadora Amazon Parques & Resorts, responsável pelo projeto, 70% dos compradores são paulistas.
O empreendimento terá cerca de 200 apartamentos. O projeto, segundo a incorporadora, terá eficiência energética com a utilização de energias renováveis, o uso racional da água, tecnologias e materiais ecológicos e a integração com a cultura local.
O diretor de operações da empresa, Marcio Piccoli, acredita que o modelo de multipropriedade atende ao perfil de moradores de São Paulo, "mais acostumados com a economia compartilhada, com o uso de carros por aplicativo e moradias por assinatura", segundo ele.
Segundo o estudo da Caio Calfat, o comprador de uma fração de multipropriedade tem, na grande maioria, entre 30 anos e 49 anos, e estão casados e com filhos. Neste ano, contudo, uma explosão no número de compradores divorciados e sem filhos surpreendeu. Eles eram 1,4% em 2022, e agora são 18% dos proprietários de cotas.
Fonte: Folha de S. Paulo