Novas funcionalidades para hotéis em crise

Por Juliana Monezza

Em momentos de crise, como o atual, devemos sempre tentar nos reinventar. Nessa pandemia provocada pelo novo coronavírus, a hotelaria se viu diante de problema nunca antes enfrentado, e muitos empresários, infelizmente, não estão conseguindo se reerguer. Nesse cenário, o segmento de moradia estudantil viu uma oportunidade: transformar hotéis em crise em residências.

Um dos empreendimentos que hoje servem como moradia para estudantes é o Hotel Novo Mundo, no Rio de Janeiro, comprado e totalmente reformado pela Uliving para abrigar 413 estudantes do mundo todo. O prédio, que já abrigou diplomatas, políticos e famosos teve seus elementos originais preservados, e o maior impacto de mudanças foi nas áreas comuns, onde a empresa responsável desenhou ambientes que proporcionassem experiências de convivência, mas que preservassem a privacidade dos moradores.

“Faz parte, como em qualquer mercado, a chegada de novas ideias para a renovação do setor. A conversão se tornou uma tendência por conta da crise que estamos atravessando no País. Alguns donos de hotéis não estão conseguindo manter as portas abertas e, com isso, surge a oportunidade de adquirir prédios e realizar um retrofit para transforma-los em uma nova experiência”, explica Juliano Antunes, CEO e cocriador da marca.

 
Uliving Ribeirao (SP). Foto de Hernandes Guedes

Uliving Ribeirao (SP). Foto de Hernandes Guedes

 

Caio Calfat, diretor geral e fundador da Real Estate Consulting, vice-presidente de Assuntos Turísticos Imobiliários do Secovi-SP e presidente da ADIT Brasil diz que essa é uma tendência que está acontecendo no Brasil. “A transformação de hotéis em residenciais puros, em moradias com serviços hoteleiros, em residência para estudantes e também para idosos é um mercado em ascensão”.

Para o executivo, nesse primeiro momento, o movimento será mais acentuado nas capitais brasileiras, especialmente onde houve super oferta hoteleira na época da Copa do Mundo. “Acredito também que a transformação desses empreendimentos em moradia, reduzindo a oferta hoteleira, pode ser a solução para a recuperação do setor quando a pandemia acabar”.

Revitalizar e transformar

Juliano Antunes conta que um dos pilares do negócio da Uliving é revitalizar empreendimentos que estavam praticamente abandonados e foram ou são icônicos para as comunidades onde estão inseridos. “Além do Novo Mundo, temos dois cases com esse perfil. O antigo Holiday Inn, na cidade de Ribeirão Preto; e o Hotel Jaguar, no centro de São Paulo, propriedade que recebeu cantores e bandas renomadas nos anos 70”.

O empresário afirma que estão negociando outros dois empreendimentos fora do estado de São Paulo, mas que ainda não pode revelar a localização. A nossa busca é por locais que façam sentido para a experiência que queremos oferecer aos jovens estudantes. É imprescindível que o imóvel tenha fácil acesso ao transporte público ou esteja inserido em grandes centros econômicos das cidades; também damos preferência por uma estrutura que tenha a acomodação estruturada de quarto e banheiro, porém que permita a adaptação de espaços para transformarmos das áreas comuns, que é um dos nossos grandes diferenciais”.

 
Uliving Rio. Foto de Lais Araujo

Uliving Rio. Foto de Lais Araujo

 

Roland de Bonadona, da Bonadona Hotel Consulting, explica que os segmentos de student e senior housing possuem demanda particular e formatos diferentes. Eles devem crescer no futuro, porém no seu próprio ritmo. “No caso de residências estudantis a adaptação é mais fácil, pois o estudante precisa de um quarto simples, um lugar para trabalhar, uma cozinha coletiva par suas refeições. Tudo o que um hotel já tem. Já a hospedagem para idosos é mais complexa”.

O executivo explica que existem diferentes perfis de cliente para uma senior housing: os que estão bem de saúde e querem apenas um lugar para viver, os que precisam de algum tipo de auxílio por conta da mobilidade e de problemas de saúde e, ainda, os que são dependentes de cuidados, que não saem da cama, que precisam de fisioterapia e tratamentos etc. “Adaptar um hotel para esse perfil de cliente já é mais complicado. É precisa avaliar não apenas as diferenças em termos de potencial de mercado como também as restrições legais, as transformações estruturais e a questão cultural”, explica.

Fonte: Hotel News