Longevidade, ao pé da letra

Por Caio Calfat

Nunca se debateu tanto sobre longevidade. E o motivo é óbvio: temos um novo habitante no mundo que precisa ter seus anseios e necessidades atendidas. Até muito pouco tempo atrás, muito se falava sobre os 60+ como a parcela idosa da população, o que não é mais a verdade.

Essa camada deu origem a outras e hoje já falamos nos 70+, 80+ e 90+, sendo que essa última faixa etária é a que teve maior crescimento médio anual nos últimos 10 anos, segundo um estudo realizado pela Caio Calfat Real Estate Consulting e Brain Inteligência Estratégica com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Não tínhamos este público habitando o nosso planeta até outro dia, mas hoje eles estão por aí. Para além do avanço da medicina, esse movimento também está relacionado a uma maior preocupação em relação aos cuidados com a saúde, mais adesão à prática de exercícios físicos, aos cuidados com a saúde mental e com a alimentação saudável.

Todos esses fatores estão diretamente ligados ao conceito de longevidade, traduzido, de forma simples, como a capacidade de viver mais e com qualidade de vida. Ou seja, um conceito que se refere a uma vida mais longa do que a média e que envolve saúde e bem-estar.

E é para atender a essa nova faixa significativa de seres longevos que coabitam o mundo que alguns modelos de negócios começam a surgir; outros a se consolidar – sem falar naqueles que, por sua vez, ainda podem ser criados. Afinal, essa camada da população precisa se divertir, praticar atividades físicas, viajar, ir a restaurantes, frequentar teatros e cinemas, comprar um cosmético adequado, uma roupa ou um calçado que o faça se sentir confortável, um móvel com pequenas adaptações, se for o caso.

Mas, acima de tudo, essa parcela da população precisa ressignificar o morar. Isso significa procurar e encontrar mais um lar do que uma casa. Ele busca mais qualidade de vida e menos dependência dos filhos, dos netos ou de qualquer outro integrante da família.

É a partir dessa premissa que o conceito de sênior living, muito difundido no exterior passa a ganha força no Brasil. Um empreendimento imobiliário projetado com base em acessibilidade, visando o conforto, segurança, qualidade de vida e independência aos moradores que têm direito, ainda, a serviços de saúde e atividades sociais dentro do condomínio.

Esse modo vai na contramão, na total contraposição do modelo – antigo e ultrapassado – dos asilos. A casa de repouso era a última morada dos idosos. Ao extremo, eram ambientes conhecidos como lugares para se “esperar o fim”. Enquanto isso, o sênior living é um lugar para que se viva mais e melhor. Lá é possível fazer novas conexões e conviver com amigos. Estes endereços também contam com atividades que vão desde cursos a opções de lazer, passando pelo desenvolvimento de hobbies ou somente passeios coletivos aos finais de semana. O cardápio de oportunidades é amplo e a liberdade de escolha está presente. O mais importante é saber que são inúmeras as oportunidades de começar um novo capítulo.

Afinal, longevidade não é mais sobre cuidar de pessoas e oferece tratamentos que prolongam a vida quando aparecem os primeiros sinais de senilidade. É prover qualidade de vida enquanto o idoso ainda está bem. O maior obstáculo é consolidar a imagem do sênior living como um lugar para viver e não para morrer. Desarticular essa ideia de ser um ambiente que cabe somente para o fim da vida e abrir a mente para a nova vida que essa residência oferecerá àqueles que estão uma fase atrás, cheia de oportunidades.

Essa mudança de mentalidade leva tempo, mas não tenho dúvidas que este modelo vai se consolidar. Afinal, a população continua envelhecendo e aqueles que ainda não estão na idade de morar nesses locais estão absorvendo o modelo, com grandes chances de considerá-lo para si mesmo. E, com isso, garantir um futuro que permita a cada um de nós viver uma velhice consciente, divertida e plena em qualidade de vida. Como prega o próprio conceito de longevidade, ao pé da letra.

 

* Caio Calfat é vice-presidente de Assuntos Turístico-Imobiliários do SECOVI-SP, presidente da Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil (ADIT), fundador e diretor-geral da Caio Calfat Real Estate Consulting